TEXTO BY HARRY HALLER [GHOST WRITER]
Dessa vez venho aqui, na minha provável última aparição, que nem eu sei, mas provavelmente fruto de alguma mente insana, delirante e quem sabe até mesmo soberba – para se julgar no direito de falar por mim, como se isso fosse possível, como se de fato eu tivesse mesmo aqui, mas… o que levanta uma dúvida: se eu sei que ele está falando o que eu falaria, não seria realmente o caso de que eu estou realmente falando por ele ou será apenas devaneios dele? Quem é ele? A vida desse lado aqui é engraçada: muito mais perguntas sem respostas, que se imagina, que se supõe a vossa vã filosofia…
Esqueçamos disso, o fato é que o que vamos falar aqui, são adaptações de pensamentos antigos, de outros pensadores – além do mais eu jamais ousaria me colocar na galeria dos pensadores da humanidade. Sou ou fui apenas um legítimo observador das experiências humanas, que aprendeu muito mais empiricamente, que através dos registros científicos da época que eu vivi ou mesmo das épocas que mesmo pós morte, também pude acompanhar: em resumo, como no meu livro diz, nunca passei de um velho solitário moribundo que se auto intitulava Lobo da Estepe.
Peço antecipadamente desculpas pelo tamanho do texto, dessa vez um tanto maior, mas são pensamentos não meus, mas sim de verdadeiros pensadores, adaptados por essa soberba dupla: eu e ele (H.H. e o louco que me dá voz). Um adendo: uns chamariam o louco de louco mesmo, assim como eu mesmo o faço, outros de profeta, médium, oráculo, etc.
Pois então que seja… vamos ao que já foi dito sobre o fim:
O fim é a inspiração da filosofia, a criação de conteúdo. Em resumo, que você viu postado aqui até agora, o fim que você vê e talvez lamente agora, não fosse esse momento, talvez nada disso tivesse existido, porque inconscientemente esse momento foi o que inspirou todos os anteriores. Um velho chamado Arthur, mais conhecido com Schopenhauer que disse isso.. não preciso dizer, que, claro, com outras palavras.
Sócrates disse que o fim é que o antecede a escrita. Há, é claro, uma forma rasa de entender isso: Quando começamos a escrever, dissertar, filosofar sobre algo, obviamente sabemos que aquele texto ali vai ter um fim. Esse fim é justamente a criação da preparação do argumento. Sendo repetitivo, o próprio fim, é o que nos prepara para escrever. Pensando de forma mais abrangente, sem a certeza do fim, seria difícil que sequer tivéssemos começado essa empreitada. Não só eu, renascido da morte, como os demais colegas colaboradores que tanto abrilhantaram esse canal, sem modéstia ou falsa modéstia alguma, eles, sem dúvida muito mais que eu – aí o maluco aqui me corrige: que nós (nós no caso, eu e ele).
Apesar de Nietzsche dizer que o fim é o acaso mais radical. Sem esse “acaso” não exisitiria o início, tampouco os “meios”. Considerando as premissas apresentadas nos dois parágrafos acima. Na verdade, só citei o velho Friedrich aqui, por uma questão afetiva muito pessoal que tenho com ele, não queria que esse texto passasse sem essa citação dele. Não por considerá-la imprescindível, mas por considerá-lo alguém muito digno de ser homenageável.
Fechando a parte dos pensadores e – pelo que me lembre – o que mais se aproxima do nosso sentimento ao encerrarmos esse ciclo aqui nesse canal, cito Montaigne que nos dá uma boa, positiva e esperançosa forma de enxergar o fim, que no fim, reflete o sentimento de todos – ou quase todos – os colaboradores, idealizadores desse seletamente bem frequentado espaço de leituras e debates virtuais:
Refletir sobre o fim, é refletir sobre a liberdade!
E no fim (nossa, quantas vezes citamos “fim” aqui) o espaço virtual não vai ser apagado, tudo que já foi escrito um dia aqui, aqui continuará, estará espera-se registrado para a posteridade.
Quem já nos conhecia de antes, a hora que quiser, é só voltar e rever, reler… quem não conhecia, com essas postagens ensaiadas de fim, agora, para estes, pode ser apenas o começo. Pode ser o começo de uma nova relação de reflexões, buscas no blog e algumas boas leituras, e talvez, ainda cético, não acreditando, após revirar o blog todo, ele acabe voltando aqui nesse exato ponto e perceba que, sim, acabou e sinta a mesma sensação – boa, ruim, de indiferença, de alívio ou liberdade – que você caro leitor está sentindo.
Eu, Harry Haller, particularmente, com o fim que se anuncia, se consolida, fico sim com a sensação de liberdade. Posso voltar pra onde estava e a mente doentia por trás de mim – ou da qual eu estou por trás – vai poder finalmente se livrar de mim. Afinal de contas me representar é muita responsabilidade. Que ele descanse em paz!
Que vocês sejam livres, que vocês viagem por novos caminhos, conheçam novas realidades, encontrem novas conquistas, evoluam, cresçam, progridam… mas quando sentirem saudades, estaremos sempre aqui.
Porque o que é feito com carinho, amor, competência e dedicação: triunfa! O nosso triunfo, ainda que em pouco tempo, mas por tanto amor, por tanta dedicação, tanta paixão, tanta competência exposta nos textos que construíram a história desse blog, não sobra outro lugar para todos nós aqui, se não a eternidade! Estaremos vivos eternamente no coração de cada um de vós que nos acompanhou por todo esse tempo e repito: tudo que fizemos nesse tempo, aqui ficará sempre registrado, catalogado, arquivado!
Portanto, nada de chorar, nem de soltar fogos… é só uma questão de liberdade, cada um aqui vai seguir seu caminho, eu vou seguir o meu e a vida prossegue! Obrigado e parabéns para todos nós!
#SacadaDaBibliotecaVIVE! #umsalveparaHermmannHesse
HARRY HALLER
02/05/2018
>SOBRE O AUTOR
Eu posso ser qualquer um dos que compõe o elenco do blog ou não ser nenhum deles (o que é o mais provável). Mas posso também lhe assegurar, citando Pessoa, que “eu não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio…”